Anibal Beça (1946-2009)
As minhas mãos são pentagramas
acordando sons no teu corpo.
Ponta de dedos ímã o tato se vai
percutindo notas descobrindo poros
um toque de cheiro no silêncio úmido.
Nos teus cabelos teço a fina partitura
feita de duas claves:
A mão direita
sola um sol agudíssimo
na tua verbena escondida;
a esquerda se faz em fá
o grave fado
o gesto do teu tesão
fala no meu pulsar.
(Um sopro morno fala baixo
no bafo abafado em tua boca)
O suor dos nossos corpos
– enquanto garoa no lençol –
lava por um instante
o tempo de um ritmo sem metrônomo
um cheiro concreto de amêndoas.