Amigos da Alcova

terça-feira, 18 de maio de 2010

Carmina Burana – CLXXXV

(Autor desconhecido)


Moça alegre, eu vivia,
uma virgem em flor,
toda gente me sorria,
me levava em andor.
– Ai, que dor,
   ó tílias malfadadas,
   à beira da senda alinhadas.

Ia passear no prado
e flores ajuntar,
chegou um rapaz malvado
pra me deflorar.
– Ai, que dor...
   ó tílias malfadadas,
   à beira da senda alinhadas.

Minha branca mão tomou
inocentemente,
ao verde prado me levou
maliciosamente.
– Ai, que dor!...
   ó tílias malfadadas,
   à beira da senda alinhadas.

A alva roupa segurou,
indecentemente,
pela mão me arrastou,
violentamente.
– Ai, que dor...

Disse: “Mulher, venha comigo,
na mata estamos seguros.”
– triste senda, te maldigo –
chorei nestes apuros.
– Ai, que dor...

“Existem ali tílias formosas
à beira das estradas,
minh’harpa e lira maviosas
ali estão guardadas.”
– Ai, que dor...

Quando nas tílias chegou,
disse: “Descansemos...”
– Vênus dele se apoderou –
“agora juntos brinquemos.”
– Ai, que dor...

Meu alvo corpo ele agarrou,
de medo estava louca,
“Faço-te mulher” falou
“doce é tua boca!”
– Ai, que dor...

Minha camisa ele arrancou,
fiquei toda despida,
em meu castelo penetrou
de espada erguida.
– Ai, que dor!...

Com a flecha fez pontaria
no alvo atirou!
comigo fez patifaria.
“O jogo acabou!”
– Ai, que dor...


(Trad. Maurice van Woensel)

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