Catulo (87-54 a.C)*
É como um deus, é mais que um deus
(Sem blafêmia) aquele que pode
Sentar-se à sua frente,
Ouvi-la e contemplá-la,
A sorrir docemente.
Só eu, pobre, não posso: esvaem-se
Os sentidos, assim que a vejo,
Lésbia: no mesmo ato,
Sinto um nó na garganta,
Paralisa-se a língua.
Uma chama febril rastilha
Nos membros; de dentro do ouvido,
Um zumbido ressoa
Na orelha e uma noite
Gêmea vela os meus olhos.
O ócio lhe faz mal, Catulo;
O ócio exacerba os sentidos,
O ócio já perdeu
Reis e levou cidades
Felizes à ruína.
(Trad. Décio Pignatari)
(*) Adaptação de um poema de
Safo (séc VII- séc VI a.C.).