Amigos da Alcova

sábado, 25 de junho de 2022

É como um deus, é mais que um deus

 Catulo (87-54 a.C)*

 

É como um deus, é mais que um deus

(Sem blafêmia) aquele que pode

Sentar-se à sua frente,

Ouvi-la e contemplá-la,

A sorrir docemente.

 

Só eu, pobre, não posso: esvaem-se

Os sentidos, assim que a vejo,

Lésbia: no mesmo ato,

Sinto um nó na garganta,

Paralisa-se a língua.

 

Uma chama febril rastilha

Nos membros; de dentro do ouvido,

Um zumbido ressoa

Na orelha e uma noite

Gêmea vela os meus olhos.

 

O ócio lhe faz mal, Catulo;

O ócio exacerba os sentidos,

O ócio já perdeu

Reis e levou cidades

Felizes à ruína.

(Trad. Décio Pignatari)

 

(*) Adaptação de um poema de Safo (séc VII- séc VI a.C.).



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