Waly Salomão (1943-2003)
Por que a poesia tem que
se confinar
às paredes de dentro da
vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do
grelo
da greta
da gruta
e se espraiar em pleno
grude
além da grade
do sol nascido quadrado?
Por que a poesia tem que
se sustentar
de pé, cartesiana milícia
enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode
ficar de quatro
e se agachar e se
esgueirar
para gozar
– CARPE DIEM! –
fora da zona da página?
Por que a poesia de rabo
preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não poder travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?