Amigos da Alcova

domingo, 14 de agosto de 2016

Exterior



Waly Salomão (1943-2003)


Por que a poesia tem que se confinar
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
                        da greta
                        da gruta
e se espraiar em pleno grude
                   além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?

Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– CARPE DIEM! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
          polimórfica e perversa,
não poder travestir-se
           com os clitóris e balangandãs da lira?

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