Francisco
Moniz Barreto (1804-1868)
A mulher, que do marido
Na ausência com
tudo implica,
E nos pobres
servos malha –
Por dá cá aquela
palha –
Quer pica.
A donzela, que tem
flatos,
E a todos diz que
entisica,
E passa, lendo
novelas,
Toda noite, ou nas
janelas,
Quer pica.
Moça enferma, que –
em remédios
Não tomar –
teimosa embica,
Não quer outra
medicina,
Quer cristel por
onde urina,
Quer pica.
Virgem, que, dando
em beata,
Só aos templos se
dedica,
Não aspira à
eterna glória;
Isso é impostura,
é história;
Quer pica.
Noiva, que, assim
que anoitece,
Pede o chá; e, mal
debica,
Quebrando os
olhos, se fila
Do noivo ao ombro,
e cochila,
Quer pica.
A viúva, que seus
males
A todos, chorando,
indica,
A ver se alma
piedosa
De novo, a de
pronto, a esposa,
Quer pica.
Noviça, que se
enfurece,
E como possessa
fica,
Por não poder ir à
grade
Nem falar c’o
primo frade,
Que pica.
Abadessa, ainda
fresca,
Que presentes de
canjica
E milhos – por São
João –
Manda ao padre
capelão,
Quer pica.
Quando muito
presenteia
Ao pobre a fidalga
rica,
Não é por ser
liberal,
Não senhores; não
há tal;
Quer pica.
Todo homem quer
dinheiro,
Todo caralho quer
crica,
Toda criança quer
mama,
Toda mulher para a
cama
Quer pica.