Laurindo Rabelo (1826-1864)
MOTE
Pode apalpar, pode ver,
Das coxinhas pode usar,
Por fora quanto quiser,
Dentro não, que hei de
gritar!
GLOSA
–
Meu benzinho, que desgosto
Me
está causando você;
Sua
boquinha me dê,
Para
mim volte o seu rosto.
–
Eu consinto no seu gosto,
Porém
não ha de meter,
E
se deseja saber
Se
ainda tenho cabaço,
Com
todo o desembaraço
Pode apalpar, pode ver.
–
Aqui está! Meta o dedinho
Na
cavidade do centro;
Não
me carregue pra dentro
Que
me magoa o coninho;
Não
esteja tão tristezinho
Por
eu não me franquear;
Você
me quer desonrar!
Olhe,
eu lhe faço um partido,
Se é pra ser meu marido,
Das coxinhas pode usar.
– A
coisa pode encostar
Por
fora, não tenha susto;
E,
se quer prazer mais justo,
Pode
os peitinhos chupar.
Em
tudo deixo pegar,
Mas
só faça o que eu disser,
Pois
se minha mãe souber
Que
você... Ai! Ai! Que dor!
Ai!...
Dentro não, meu amor!...
Por fora, quanto quiser!
–
Já vai você, minha vida,
Sua
coisinha metendo...
A
pomba me está doendo...
Eu
já me sinto ferida;
Não
me queira ver perdida...
Vá
pedir-me pra casar...
Meu
Deus!... E ele a teimar...
Olhe
que eu me vou embora...
Se quiser venha-se fora,
Dentro não, que hei de
gritar!