Amigos da Alcova

sábado, 18 de junho de 2016

O dia seguinte


Carvalho Junior (1855-1879)


Quando, pela manhã, contemplo-te abatida
Amortecido o olhar e a face descorada,
Imersa em languidez profunda, indefinida,
O lábio ressequido e a pálpebra azulada,

Relembro as impressões da noite consumida
Na lúbrica expansão, na febre alucinada,
Do gozo sensual, frenético, homicida,
Como a lâmina aguda e fria de uma espada.

E ao ver em derredor o grande desalinho
Das roupas pelo chão, dos móveis no caminho,
E o boudoir, enfim, do caos um fiel plágio,

Suponho-me um herói da velha Antiguidade,
Um marinheiro audaz após a tempestade, 
Tendo por pedestal os restos dum naufrágio!

Voyeurs desde o Natal de 2009