Carvalho Junior (1855-1879)
Quando, pela manhã,
contemplo-te abatida
Amortecido o olhar e a
face descorada,
Imersa em languidez
profunda, indefinida,
O lábio ressequido e a
pálpebra azulada,
Relembro as impressões da
noite consumida
Na lúbrica expansão, na
febre alucinada,
Do gozo sensual,
frenético, homicida,
Como a lâmina aguda e
fria de uma espada.
E ao ver em derredor o
grande desalinho
Das roupas pelo chão, dos
móveis no caminho,
E o boudoir, enfim, do caos um fiel plágio,
Suponho-me um herói da
velha Antiguidade,
Um marinheiro audaz após
a tempestade,
Tendo por pedestal os
restos dum naufrágio!