Zemaria Pinto
Rogélia
Casada
com um colega do banco, com quem me dava muito bem, apesar do pudor de chamá-lo
de amigo, Rogélia era de uma beleza difícil de descrever: a pele achocolatada,
os cabelos castanhos muito claros, os olhos profundamente azuis – e um corpo
esculpido com requintes de perfeição. Certa manhã, toca o telefone e ela
pergunta pelo marido, que se sentava à minha frente, no lado oposto da sala.
Ele estava lá, mas ela queria falar mesmo era comigo, queria encontrar-se
comigo, longe da paisagem cotidiana. Marcamos para o final da tarde, no
balneário do Parque 10, cujo bar funcionava a partir de quinta-feira. Ela
estava com um véu sobre a cabeça e óculos escuros, mas era impossível disfarçar
aquele corpo monumental, sem par em toda a cidade. No bar, pouco mais de 18
horas, apenas dois casais, muito provavelmente, clandestinos também. Rogélia
soubera que o marido andava de caso com uma estudante do Pedro II – e queria
vingança. Mas por que eu? – Porque ele não gosta de você; acha que ele, por
inúmeras razões, deveria ocupar o seu lugar no banco; e por muito tempo ele me
pintou você como um sedutor irresponsável, um moleque; agora, eu quero que você
me seduza... Àquela mulher tão linda, era quase impossível dizer não. Tentei
argumentar, mas ela me sufocou com um beijo, o hálito quente, um gosto de
framboesa. Entramos no carro e ela foi logo desabotoando minha braguilha e, com
muita destreza, chupando meu pau. Entrei em um ramal que eu já conhecia de
outras investidas. Mas ela não queria só sexo. Queria humilhar o marido. Passou
para o banco de trás do Comodoro e ficou de quatro, com a porta aberta, e eu
pude penetrar a sua boceta: ela uivava como uma loba, um gozo cheio de
melancolia. Depois, ela desceu do carro e, ainda de costas, ofereceu-me a bunda
e eu penetrei-a com força. – Me fode, cachorrão! Me fode! Não sei quanto tempo
ficamos ali. Depois que gozei a terceira vez e já perdera o interesse, ela
continuava querendo mais. Uma tímida lua crescente iluminava o estreito caminho
de barro. Rogélia, que tinha sangue nórdico e guarani, voltou para o sul. O
marido desapareceu no abismo do seu encalço. A mim ficou-me apenas a lembrança
de uma lua pálida e de uma loba triste.
(Para ler outros contos desta série, veja Lábios que beijei)