Amigos da Alcova

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A primeira vez que nos amamos

João Sebastião
(para Angélica de Lis, doce memória)



A primeira vez que nos amamos
senti vibrar teu corpo de alegria
apesar de uma lágrima furtiva
e do teu rosto contraído
numa singela expressão de dor.

A primeira vez que nos amamos
havia música barroca no ar
pontuando a estranha melancolia
e a fortuita liberdade
que nem tu nem eu sabíamos explicar.

A primeira vez que nos amamos
e que nossos corpos se envolveram com paixão
nem a dor nem o sangue ou o suor
macularam a inocência de um encontro
forjado pela febre do desejo mútuo.

A primeira vez que nos amamos
havia pássaros nos laranjais
trilando melodias merencórias
um tom acima do coro de anjos
que em nossa cela nos abençoava.

A primeira vez que nos amamos
um poema em teu corpo eu tatuei
com minhas mãos meus lábios e meu sexo
e te amei como nunca amei ninguém
e tu me amaste como Eva amou Adão.

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