Vanessa
Almeida
Línguas não
são estranhas.
Falo de almas
livres
na dança úmida
dos corpos.
Poesia Erótica – Poesia Pornográfica
Anete Valdevino
Em meus braços, eu me encontro,
Pura essência, sem máscaras.
Meu toque, uma carícia suave,
Meu olhar, admiração sem limites.
Minha pele, um jardim florido,
Meu coração, um oceano profundo.
Eu me amo, sem condições,
Eu me aceito, sem reservas.
Neste espelho, vejo beleza,
Força e vulnerabilidade.
Eu sou minha própria paixão,
Minha própria obra de arte.
Eu me amarei, hoje e sempre,
Com todos os meus defeitos e virtudes.
Eu sou minha própria rainha,
Minha própria fonte de amor.
Maria Teresa Horta
Empurra a tua espadano meu ventre
enterra-a devagar até ao cimo
que eu sinta de ti a queimadurae a tua mordedura nos meus rins
deixa depois que a tua bocadesça
e me contorne as pernas com doçura
Ó meu amor a tua línguaprende
aquilo que desprende de loucura
Nei Leandro
de Castro
Praticar o
coito anal
com uma
jovem poeta
nós dois
equilibrados
num selim
de bicicleta.
Eliakin Rufino
tenho cacimbas no corpo
para que bebas amor
meu licor
sinto frio nesta cama quente
abre tuas pernas
pra que eu entre
festa no interior
o rio e a floresta
no cio fazendo amor
caminho
capim
carinho
mujer desnuda
mis ojos caminan
en tu cuerpo
brinco exótico
bico do peito
pássaro erótico
seios de menina
doce vale
suave colina
Adélia Prado
A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.
Pablo Neruda (1904-1973)
Corpo de mulher, alvas colinas, coxas brancas,
ao mundo te assemelhas em teu ato de entrega.
O meu corpo selvagem de camponês te escava
e faz saltar o filho das entranhas da terra.
Fui um túnel vazio. De mim fugiam pássaros
e a noite me infiltrava sua invasão resoluta.
Para sobreviver forjei-te qual uma arma,
uma flecha em meu arco e pedra em minha funda.
Tomba porém a hora da vingança e eu te amo.
Corpo de pele e musgo, de leite ávido e firme.
Ah os vasos do peito! Ah os olhos de ausência!
Ah as rosas do púbis! Ah tua voz lenta e triste!
Corpo de mulher minha, persisto em tua graça.
Minha ânsia sem limites, meu caminho indeciso!
Sulcos escuros onde a sede eterna corre,
onde a fadiga corre, e a dor, este infinito.
(Trad. Domingos Carvalho da Silva)
Jorge de Lima (1893-1953)
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô!
ficou logo pra mucama
para vigiar a Sinhá,
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
“Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
Entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco.”
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
“minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou.”
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
Chamando a negra Fulô.)
Cadê meu frasco de cheiro
Que teu Sinhô me mandou?
— Ah! Foi você que roubou!
Ah! Foi você que roubou!
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê meu lenço de rendas,
Cadê meu cinto, meu broche,
Cadê o meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô! Ó Fulô!
Cadê, cadê teu Sinhô
que Nosso Senhor me mandou?
Ah! Foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
Essa negra Fulô!
Mário Faustino (1930-1962)
Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velam por seu sono. Assim, pendente
O rosto sobre o ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sonho suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebatá-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.
Marta Cortezão
Ó meu amor a tua língua
prende
aquilo que desprende da loucura
(Maria Teresa Horta)
a cidade nua se abre
aos meus olhos
se mostra lúdica
oferecendo-se ao prazer
a cidade me deslumbra
me excita à vadiagem
segredando-me ao ouvido
desejos guardados
palavras libidinosas
a cidade se enrosca
em meu corpo
me aperta as nádegas
me assanha o sexo
me seduz inteira
a cidade se derrama
me devora
me absorve
me consome
a cidade me acende
um gozo vivo
uma transa louca
na fúria das horas
Gilka
Machado
(1893-1980)
Belo e heroico, agitando as veludosas crinas,
meu árdego animal, tens a sofreguidão
do infinito – o infinito haures pelas narinas –
e, sem asas obter, buscas fugir do chão.
Domino-te; entretanto, és tu que me dominas.
É um desejo que espera a humana direção
a tua alma, e, transpondo os valos e as campinas,
meu sentimento e o teu se compreendendo vão.
Amas o movimento, o perigo, as distâncias;
meigo, sentimental, tens arrojadas ânsias,
em tuas veias corre um férvido calor.
Quando em teu corpo forte o frágil corpo aprumo
eu me sinto disposta a lançar-me, sem rumo,
à conquistas da Glória e à conquistas do Amor!
Manoel de Barros (1916-2014)
8.
– Sou uma virtude conjugal
adivinha qual é?
– Um jambo,
um jardim outonal?
– Não.
– Uma louca,
as ruínas de Pompeia?
– Não.
– És uma estátua de nuvens,
o muro das lamentações?
– Não.
– Ai, entonces que reino é o teu, darling?
Me conta te dou fazenda,
me afundo, deixo o cachimbo.
Me conta que reino é o teu?
– Não.
Mas pode pegar em mim que estou uma Sodoma...
Violeta Branca (1915-2000)
Teu desejo de vento
torceu os galhos fortes de minha vontade.
Sou folha tonta,
no giro alucinado
do teu caprichoso amor de vento.
Num constante delírio,
rodopio,
rodopio,
rodopio,
como pétala perdida
nas tuas doidas mãos de vento...
Da floresta mágica do sonho,
arrancou-me a fantasia de teu pensamento.
Sou a árvore mais linda,
árvore que canta
no delicioso desnorteio
do abraço morno
dos teus febris braços de vento.
Glauco Mattoso
Coprófilo é quem gosta de excremento.
Pedófilo só trepa com criança.
Defunto fresco em paz jamais descansa
nos braços do necrófilo sedento.
Voyeur assiste a tudo, sempre atento
ao exibicionista, que até dança.
O fetichista transa até com trança,
e o masoquista adora sofrimento.
Libido, pelo jeito, é mero lodo.
A sensualidade faz sentido
conforme a morbidez sob a qual fodo.
Não basta o pé, precisa ser fedido.
Se tenho de escolher, pois, um apodo,
serei um podosmófilo assumido.