Amigos da Alcova

domingo, 23 de junho de 2024

Poema 1 (dos 20 poemas de amor e uma canção desesperada)

 

Pablo Neruda (1904-1973)


Corpo de mulher, alvas colinas, coxas brancas,

ao mundo te assemelhas em teu ato de entrega.

O meu corpo selvagem de camponês te escava

e faz saltar o filho das entranhas da terra.


Fui um túnel vazio. De mim fugiam pássaros

e a noite me infiltrava sua invasão resoluta.

Para sobreviver forjei-te qual uma arma,

uma flecha em meu arco e pedra em minha funda.


Tomba porém a hora da vingança e eu te amo.

Corpo de pele e musgo, de leite ávido e firme.

Ah os vasos do peito! Ah os olhos de ausência!

Ah as rosas do púbis! Ah tua voz lenta e triste!

 

Corpo de mulher minha, persisto em tua graça.

Minha ânsia sem limites, meu caminho indeciso!

Sulcos escuros onde a sede eterna corre,

onde a fadiga corre, e a dor, este infinito.

 

(Trad. Domingos Carvalho da Silva)

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