Amigos da Alcova

domingo, 15 de junho de 2025

Ó tu, sublime puta encanecida

 Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)

 

Ó tu, sublime puta encanecida,

que me negas favores dispensados

em rubros tempos, quando nossa vida

eram vagina e fálus entrançados,

 

agora que estás velha e teus pecados

no rosto se revelam, de saída,

agora te recolhes aos selados

desertos da virtude carcomida.

 

E eu queria tão pouco desses peitos,

da garupa e da bunda que sorria

em alva aparição no canto escuro.

 

Queria teus encantos já desfeitos

ressentir ao império do mais puro

tesão, e da mais breve fantasia.

 

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