Amigos da Alcova

domingo, 14 de agosto de 2022

A fome e o amor

 

Augusto dos Anjos (1884-1914)

A um Monstro

 

Fome! E, na ânsia voraz que, ávida, aumenta,

Receando outras mandíbulas a esbanjem,

Os dentes antropófagos que rangem,

Antes da refeição sanguinolenta!

 

Amor! E a satiríases sedenta,

Rugindo, enquanto as almas se confrangem,

Todas as danações sexuais que abrangem

A apolínica besta famulenta!

 

Ambos assim, tragando a ambiência vasta,

No desembestamento que os arrasta,

Superexcitadíssimos, os dois

 

Representam, no ardor dos seus assomos,

A alegoria do que outrora fomos

E a imagem bronca do que inda hoje sois!

 


Voyeurs desde o Natal de 2009