Amigos da Alcova

domingo, 14 de março de 2021

Marcileudas

          Zemaria Pinto

Para o Marcileudo Barros (1951-2015)

 

 

1

 

Meninas não querem menos

do que o mais que eu posso dar.

Isso gera um descompasso

entre o dar por amor

e o receber para amar.

 

2

 

O menino aos 13 anos

descobriu que era menina.

Hoje aos 15 ele definha

lembrando com amargura

a única vez na vida

que transou sem camisinha.

 

3

 

Meninas não têm tino

meninos não têm juízo.

Álcool, maconha, coca

fazem parte da rotina:

quando a cabeça não pensa

o cu padece e amofina.

 

4

 

Pelas esquinas, meninas

e meninos fazem ponto.

Luzes, cores, gargalhadas,

carrões parando pra ver,

são todos muito felizes...

Quem quiser que escreva um conto.

 

5

 

O trombadinha na esquina

deixa passar a velhinha

para então, como um felino,

tomar-lhe a bolsa e o cordão.

 

Na fuga, encontra uma Ronda,

que lhe dispara um balaço,

abrindo um baita buraco

na altura do coração.

 

O corpo no chão caído,

a velhinha se aproxima,

fazendo o sinal da cruz;

e com o dedo em riste aponta

 

o polícia matador,

balbuciando este mantra:

era só uma criança...

era só uma criança...

 

6

 

Xana, xibiu, xoxota

xereca, concha, xavasca

priquito, racha, tabaca

vulva, vagina, vaso

borboletinha, buceta

cona, crica, bacurinha...

 

São nomes que identificam

a fonte do mel da vida.

Entre todos eu prefiro

o que melhor qualifica:

me devora, perseguida!

 

7

 

Prisioneira em seu castelo,

a princesa conta os dias

para um príncipe encantado

em cururu transformado

vir resgatá-la dali.

 

No castelo o que não falta

é cururu dando sopa:

de tanto beijar os sapos,

a princesa agora ostenta

a flor de um câncer na boca...

 

 

Manaus, 30 de setembro de 2015


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