Zemaria Pinto
Para o Marcileudo Barros (1951-2015)
1
Meninas não querem menos
do que o mais que eu posso dar.
Isso gera um descompasso
entre o dar por amor
e o receber para amar.
2
O menino aos 13 anos
descobriu que era menina.
Hoje aos 15 ele definha
lembrando com amargura
a única vez na vida
que transou sem camisinha.
3
Meninas não têm tino
meninos não têm juízo.
Álcool, maconha, coca
fazem parte da rotina:
quando a cabeça não pensa
o cu padece e amofina.
4
Pelas esquinas, meninas
e meninos fazem ponto.
Luzes, cores, gargalhadas,
carrões parando pra ver,
são todos muito felizes...
Quem quiser que escreva um conto.
5
O trombadinha na esquina
deixa passar a velhinha
para então, como um felino,
tomar-lhe a bolsa e o cordão.
Na fuga, encontra uma Ronda,
que lhe dispara um balaço,
abrindo um baita buraco
na altura do coração.
O corpo no chão caído,
a velhinha se aproxima,
fazendo o sinal da cruz;
e com o dedo em riste aponta
o polícia matador,
balbuciando este mantra:
era só uma criança...
era só uma criança...
6
Xana, xibiu, xoxota
xereca, concha, xavasca
priquito, racha, tabaca
vulva, vagina, vaso
borboletinha, buceta
cona, crica, bacurinha...
São nomes que identificam
a fonte do mel da vida.
Entre todos eu prefiro
o que melhor qualifica:
me devora, perseguida!
7
Prisioneira em seu castelo,
a princesa conta os dias
para um príncipe encantado
em cururu transformado
vir resgatá-la dali.
No castelo o que não falta
é cururu dando sopa:
de tanto beijar os sapos,
a princesa agora ostenta
a flor de um câncer na boca...
Manaus, 30 de setembro de 2015