Nei Leandro de Castro
Havia o marido e sua mulher.
Ela, Maria. O homem, José.
Maria, mais jovem, era de prendas
domésticas. Fazia rendas
e sob as agulhas guardava um segredo
que mesmo sonhá-lo causava-lhe medo.
Maria era jovem e tinha tesão.
O homem, mais velho, não tinha não.
Maria sonhava com falos suaves
ocultos em plumas, como o das aves.
José carpintava e de noite, cansado,
beijava-lhe o rosto, virava pro lado.
Na varanda da casa, José com a enxó
trabalhava um carvalho. Maria era só
desejo incontido, desejos impuros
(foder com um bruto, de pé, contra o muro).
Maria benzia-se, afastando da mente
o pecado mortal e inconsequente.
José labutava sobre a madeira.
Estava fazendo uma nova cadeira
para encostar o corpo reumático
nas noites em claro de homem asmático.
Um pombo azul, recendendo a lavanda,
pousou bem de leve naquela varanda.
Maria abismou-se na sua beleza,
a força selvagem sob a leveza
das plumas azuis. O rolo de lã
caiu do seu colo nessa manhã.
De pernas abertas, Maria sentiu
um leve arrepio de febre e de frio.
Sentiu que o pombo lhe penetrava
e vezes seguidas ejaculava
um sêmen translúcido nas suas entranhas.
E veio o gozo, com força tamanha,
que Maria se viu levitando além
das nuvens, do céu, do horizonte. E sem
perceber que José estava por perto,
deu um grito de gozo, de peito aberto.
José suspendeu o serrote no ar.
O pombo sumiu. Maria, ao voltar
a si, se compôs, arrumou o vestido
e olhou com ternura para o marido.
Ainda sentindo os mamilos em riste,
perguntou a José: por que estás triste?