Eduardo Kac
pra curar
amor platônico
só uma
trepada homérica
Poesia Erótica – Poesia Pornográfica
Violeta Branca (1915-2000)
Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...
Que minha carne tivesse
o reflexo de rosas claras ao clarão do luar.
E assim,
quando chegasses para o calor de meu beijo,
aspirarias no meu hálito o fresco perfume
de um jardim florido.
Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...
Que meus cabelos tivessem a morna fragrância
das relvas tenras.
E assim,
quando cerrasses os olhos
e, sorrindo, afagasses meu corpo ardente e jovem
tuas mãos teriam
a deliciosa volúpia
de acariciarem a primavera...
Eu quisera que meu corpo fosse feito de flores...
E assim,
quando meus braços brancos,
como uma coroa de louros,
envolvessem tua cabeça de deus pagão,
sentirias a sensação embriagante
de seres um fauno novo
perdido numa selva de lírios.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Ó tu,
sublime puta encanecida,
que me
negas favores dispensados
em rubros
tempos, quando nossa vida
eram vagina
e fálus entrançados,
agora que
estás velha e teus pecados
no rosto se
revelam, de saída,
agora te
recolhes aos selados
desertos da
virtude carcomida.
E eu queria
tão pouco desses peitos,
da garupa e
da bunda que sorria
em alva
aparição no canto escuro.
Queria teus
encantos já desfeitos
ressentir
ao império do mais puro
tesão, e da
mais breve fantasia.
Rita Alencar
Clark
Ele nem
desconfia,
Enfiado em
missões capitalistas,
Que nas
noites de desmaios
Ela escorrega
por túneis
Escuros,
viscosos, aromáticos,
O corpo todo
ondulando
E, se abrindo
como leque
Oriental,
lentamente, ela se
Levanta, um
pouco de batom
E perfume
francês…
Luzes dos
neons acendem
Uma porta na
parede lisa, ela vai
Doce,
escorregando pelo túnel,
Buscando,
serena e plena
O ponto mais
alto de seu
Próprio
prazer.
Ele nem
desconfia…
Marta Cortezão
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.
(Adélia Prado)
no vão do interdito
é que mora a poesia
que samba na tua cara
só de pilhérica sacanagem
gargalhando metalinguagem
minha gruta melopeia
decompõe teorias e cios
cavalgando o gozo pleno
em delirante sinestesia
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e envolve-lo no meu sexo
de metonímias e arrepios
minha língua devora
teu verso ereto
com apetite de Lilith
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e quebrá-lo na praia
de minhas nádegas
feitas de nuas metáforas
minha vulva vibra
em frequência sibilante
e sangra o ciclo da vida
no universo uterino
– escultor profissional
de mágicas epifanias –
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e te afogar num afoito pleonasmo
de esperança verde muiraquitã
Charles Bukowski (1920-1994)
você é um monstro, ela disse
essa enorme barriga branca
e esses pés peludos.
jamais corta as unhas
tem mãos gordas
garras felinas
focinho brilhante
e as maiores bolas
que eu já vi.
esguicha esperma como
baleias esguicham água de
seus buracos nas costas.
monstro monstro monstro,
ela me beijou,
o que você quer para
o café da manhã?
Anete Valdevino
Em meus braços, eu me encontro,
Pura essência, sem máscaras.
Meu toque, uma carícia suave,
Meu olhar, admiração sem limites.
Minha pele, um jardim florido,
Meu coração, um oceano profundo.
Eu me amo, sem condições,
Eu me aceito, sem reservas.
Neste espelho, vejo beleza,
Força e vulnerabilidade.
Eu sou minha própria paixão,
Minha própria obra de arte.
Eu me amarei, hoje e sempre,
Com todos os meus defeitos e virtudes.
Eu sou minha própria rainha,
Minha própria fonte de amor.