Amigos da Alcova

domingo, 22 de janeiro de 2023

Por decoro

 

Artur Azevedo (1855-1908)

 

Quando me esperas, palpitando amores,

e os lábios grossos e úmidos me estendes,

e do teu corpo cálido desprendes

desconhecido olor de estranhas flores;

 

quando, toda suspiros e fervores,

nesta prisão de músculos te prendes,

e aos meus beijos de sátiro te rendes,

furtando às rosas as purpúreas cores;

 

os olhos teus, inexpressivamente,

entrefechados, lânguidos, tranquilos,

olham meu doce amor, de tal maneira,

 

que, se olhassem assim, publicamente,

deveria, perdoa-me, cobri-los

uma discreta folha de parreira.

 

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