Manuel
Bandeira
(1886-1868)
As três
mulheres do sabonete Araxá me invocam, me bouleversam, me hipnotizam.
Oh, as três
mulheres do sabonete Araxá às 4 horas da tarde!
O meu reino
pelas três mulheres do sabonete Araxá!
Que outros,
não eu, a pedra cortem
Para brutais
vos adorarem,
Ó brancaranas
azedas,
Mulatas cor
da lua vem saindo cor de prata
Ou celestes
africanas:
Que eu vivo,
padeço e morro só pelas três mulheres do sabonete Araxá!
São amigas,
são irmãs, são amantes as três mulheres do sabonete Araxá?
São
prostitutas, são declamadoras, são acrobatas?
São as três
Marias?
Meu Deus,
serão as três Marias?
A mais nua é
doirada borboleta.
Se a segunda
casasse, eu ficava safado da vida, dava pra beber e nunca mais telefonava.
Mas se a
terceira morresse... Oh, então nunca mais a minha vida outrora teria sido um
festim!
Se me
perguntassem: Queres ser estrela? queres ser rei? queres uma ilha no Pacífico?
um bangalô em Copacabana?
Eu
responderia: Não quero nada disso, tetrarca. Eu só quero as três mulheres do
sabonete Araxá:
O meu reino
pelas três mulheres do sabonete Araxá!