Glauco Mattoso
Se o orifício anal é um
olho cego,
que pisca e vai fazendo
vista grossa
a tudo que entra e sai,
que entala ou roça,
três vezes cego sou. Que
cruz carrego!
Porém não pela mão me
prende o prego,
mas pela língua suja, que
hoje coça
o cu dos outros, feito um
limpa-fossa,
e as pregas, como esponja
escrota, esfrego.
O “beijo negro” é o
último degrau
desta degradação em que
mergulho,
maior humilhação eu
chupar pau.
Sujeito-me com náusea,
com engulho,
ao paladar fecal e ao
cheiro mau,
e, junto com a merda,
engulo o orgulho.