Amigos da Alcova

domingo, 29 de setembro de 2019

A pica ressuscita a mulher morta



Francisco Moniz Barreto (1804-1868)


A pica o instrumento é que no mundo
Mais milagres tem feito e mais proezas;
A pica o melhor traste é das belezas,
Mal que começa a lhes coçar o sundo.

A pica é o cão, que avança furibundo
A plebeias, fidalgas e princesas;
A pica em chamas Troia pôs acesas,
E a Dido fez descer do Urco ao fundo.

É a pica – carnal, possante espada,
Que o mundo, perfurante, emenda, entorta,
E tudo vence, como bem lhe agrada.

A pica, ora é calmante, ora conforta;
Sendo em dose alopática aplicada,
A pica ressuscita a mulher morta.



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