Álvares de Azevedo (1831-1852)
Meu desejo? era ser a
luva branca
Que essa tua gentil
mãozinha aperta;
A camélia que murcha no
teu seio,
O anjo que por te ver do
céu deserta...
Meu desejo? era ser o
sapatinho
Que teu mimoso pé no
baile encerra...
A esperança que sonhas no
futuro,
As saudades que tens aqui
na terra...
Meu desejo? era ser o
cortinado
Que não conta os
mistérios de teu leito;
Era de teu colar de negra
seda
Ser a cruz com que dormes
sobre o peito.
Meu desejo? era ser o teu
espelho
Que mais bela te vê
quando deslaças
Do baile as roupas de
escumilha e flores
E mira-te amoroso as nuas
graças!
Meu desejo? era ser desse
teu leito
De cambraia o lençol, o
travesseiro
Com que velas o seio,
onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto
feiticeiro...
Meu desejo? era ser a voz
da terra
Que da estrela do céu
ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas,
que desejas
Nas cismas encantadas de
langor!