Pedro Nava (1903-1984)
No terreiro tinha o
mamoeiro só.
Na casa tinha a moça só
E a moça era minha
namorada...
A moça cantava
de dia e de noite.
Às vezes dançava.
Se os mamões eram verdes,
ela era verde.
Se os mamões eram
amarelos,
ela era amarela.
Mas eu cogitava nos seios
da moça...
Seriam tetas? Seriam mamões?
Estariam verdes? Estariam
maduros?
Chegavam pássaros,
bicavam os mamões:
se estavam verdes,
esguichavam leite
se estavam maduros,
corria açúcar.
E nos seios da moça
ai! ninguém bicava...
Um era amarelo: teria
açúcar?
um era verde: teria
leite?
O mamoeiro crescia,
a moça crescia,
meu amor crescia,
a moça dançava
e os seios subiam,
eu namorava
e os mamões caíam...
Os pássaros vinham,
os dias fugiam...
Ela dançou tanto que os
seios caíram...
Seriam seios? Seriam
mamões?
Depois o Bicho Urucutum
comeu o mamoeiro...
Comeu de mansinho
o tronco e raízes,
os mamões e as tetas.
O Bicho Urucutum era
enorme e vagaroso!
Ela nunca mais dançou
eu nunca mais olhei,
nosso amor se acabou.