Raul Bopp (1898-1991)
Meu
corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por
que colheste, no horto em que eu vivia,
meu
corpo em flor de tâmara macia,
sem
teres forças para machucá-lo?
Na
excitação de um lúbrico intervalo,
sinto
ânsia de amor na boca fria.
Senhor,
não vens? Ai, como eu te amaria
nesse
mesmo tapete em que eu resvalo.
Dói-me
um desejo nessa estranha boda:
O
ardor de ter num desvairado instante
alguém
que possa machucar-me toda.
Os
meus braços vazios já estão cansados.
Senhor,
não queres o meu corpo arfante
que
tem sabor de todos os pecados?