Amigos da Alcova

sábado, 26 de setembro de 2015

Abisag


Raul Bopp (1898-1991)


Meu corpo é teu, senhor. Queres beijá-lo?
Por que colheste, no horto em que eu vivia,
meu corpo em flor de tâmara macia,
sem teres forças para machucá-lo?

Na excitação de um lúbrico intervalo,
sinto ânsia de amor na boca fria.
Senhor, não vens? Ai, como eu te amaria
nesse mesmo tapete em que eu resvalo.

Dói-me um desejo nessa estranha boda:
O ardor de ter num desvairado instante
alguém que possa machucar-me toda.

Os meus braços vazios já estão cansados.
Senhor, não queres o meu corpo arfante
que tem sabor de todos os pecados?


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