Hilda Hilst (1930-2004)
De pau em riste
O anão Cidão
Vivia triste.
Além do chato de ser anão
Nunca podia
Meter o ganso na tia
Nem na rodela do negrão.
É que havia um problema:
O porongo era longo
Feito um bastão.
E quando ativado
Virava... a terceira perna do anão.
Um dia... sentou-se o anão triste
Numa pedra preta e fria.
Fez então uma reza
Que assim dizia:
Se me livrasses, Senhor,
Dessa estrovenga
Prometo grana em penca
Pras vossas igrejas.
Foi atendido.
No mesmo instante
Evaporou-se-lhe
O mastruço gigante.
Nenhum tico de pau
Nem bimba nem berimbau
Pra contar o ocorrido.
E agora
Além do chato de ser anão
Sem mastruço, nem fole
Foi-se-lhe todo o tesão.
Um douto bradou: ó céus!
Por que no pedido que fizeste
Não especificaste pras Alturas
Que te deixasse um resto?
Porque Pra Deus
O anão respondeu
Qualquer dica
É compreensão segura.
Ah, é, negão? Então procura.
E até hoje
Sentado na pedra preta
O anão procura as partes pudendas,
Olhando a manhã fria.
Moral da estória:
Ao pedir, especifique tamanho
grossura e quantia.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
terça-feira, 28 de dezembro de 2010
A imagem do meu homem
Angelica de Lis (1984-2009)
No espelho o reflexo da paixão.
O seu corpo sob o meu, os toques,
Suas mãos, nos olhos a expressão
Do desejo, do fogo queimando,
O suor, as faces, o cheiro, os pelos,
O beijo, os gritos, o tesão,
– O nosso gozo.
Nossa imagem
O reflexo do desejo que nos une
O calor que queima nossos corpos, nossas almas
A minha fome insaciável
Meu sexo que nunca se cansa
Teu sexo a me penetrar,
Teu sexo me fazendo gozar.
Nossa imagem
A segunda metade de nós
Onde eu vejo meu sorriso brilhando por te ter dentro de mim.
Eu olhando em teus olhos enquanto me penetras.
Nossa imagem
Nosso amor
Refletido no espelho
A miragem da cena sagrada
– do deleite, da expressão de nos corpos, nossas faces,
Olhando nosso amor.
No espelho o reflexo da paixão.
O seu corpo sob o meu, os toques,
Suas mãos, nos olhos a expressão
Do desejo, do fogo queimando,
O suor, as faces, o cheiro, os pelos,
O beijo, os gritos, o tesão,
– O nosso gozo.
Nossa imagem
O reflexo do desejo que nos une
O calor que queima nossos corpos, nossas almas
A minha fome insaciável
Meu sexo que nunca se cansa
Teu sexo a me penetrar,
Teu sexo me fazendo gozar.
Nossa imagem
A segunda metade de nós
Onde eu vejo meu sorriso brilhando por te ter dentro de mim.
Eu olhando em teus olhos enquanto me penetras.
Nossa imagem
Nosso amor
Refletido no espelho
A miragem da cena sagrada
– do deleite, da expressão de nos corpos, nossas faces,
Olhando nosso amor.
domingo, 26 de dezembro de 2010
Corpoenigma – coxas
Zemaria Pinto
portal dos segredos
intraduzíveis do tempo
– delírio e torpor
colinas que se erguem
num poema de Neruda
– rochedos de sonho
colunas de fogo
no fulcro das catedrais
– mistério e paixão
portal dos segredos
intraduzíveis do tempo
– delírio e torpor
colinas que se erguem
num poema de Neruda
– rochedos de sonho
colunas de fogo
no fulcro das catedrais
– mistério e paixão
sexta-feira, 24 de dezembro de 2010
Safo e Alceu, 3
Rogel Samuel
deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes
logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos
deitaram-se nuas
no meio da noite
as meninas virgens
deitaram-se nuas
as doces meninas
e ainda eram virgens
e os seus esposos
acenaram logo
com as mãos erguidas
e logo chegaram
no meio da noite
como que perdidos
deitaram-se nuas
todas as meninas
escondendo as graças
e os seus consortes
logo as sucederam
e imprimiram o selo
estavam tão nuas
e eram mais puras
que longínqua estrela
e na amena noite
só fugiu o tempo
envolto num lenço
e depois de amor
daquele conúbio
choveram diamantes
o fecundo hino
daquelas meninas
musas citadinas
naquela noite toda
caem as flores finas
deusas fesceninas
e os seus amigos
inventaram lira
e os seus caprichos
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Pivete
Cândida Alves
Na ponte velha da sete
esbarrei com um pivete
cheirando cola
e tocando punheta
Com o olhão arregalado
dando pinta de careta
resmungou todo abusado
hummm! Senti cheiro de boceta!
Na ponte velha da sete
esbarrei com um pivete
cheirando cola
e tocando punheta
Com o olhão arregalado
dando pinta de careta
resmungou todo abusado
hummm! Senti cheiro de boceta!
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Coito in/ver/tido 2
Marcus Accioly
por detrás o prazer é diferente
do gozo pela frente (e pela boca
e nas mãos e nas) toda a carne é pouca
para tanto desejo (pela frente
o amor ao próprio amor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás
da fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de puxar os cabelos quando ondulam
como crinas) e o gozo insatisfeito
precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude e goza mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)
por detrás o prazer é diferente
do gozo pela frente (e pela boca
e nas mãos e nas) toda a carne é pouca
para tanto desejo (pela frente
o amor ao próprio amor se satisfaz)
mas é diverso o coito por detrás
da fêmea (é como os animais copulam)
existe um cio por detrás (um jeito
de puxar os cabelos quando ondulam
como crinas) e o gozo insatisfeito
precisa de mais gozo para ser
em sua plenitude e goza mais
(se uma só vez o amor acontecer
é preciso que seja por detrás)
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Corpoenigma – púbis
Zemaria Pinto
secreta jazida
lavada em lava e desejo
– sacrário do corpo
poema emoldurado
pelos pelos da manhã
– chispas da paixão
vale natural
universo em movimento
– essências e mel
secreta jazida
lavada em lava e desejo
– sacrário do corpo
poema emoldurado
pelos pelos da manhã
– chispas da paixão
vale natural
universo em movimento
– essências e mel
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Erótica batalha
Sebastião Nunes
Tua latejante buceta palpitante.
Meu amargo cacete perfilado.
Ovos batem continência à beira do saco.
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva.
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem.
Meu cacete é a bandeira nacional.
A guerra é santa e eu avanço.
Tua latejante buceta palpitante.
Meu amargo cacete perfilado.
Ovos batem continência à beira do saco.
Como um guerreiro de merda
o cu recua ante a dura ofensiva.
Grandes e pequenos lábios
batem palmas e riem.
Meu cacete é a bandeira nacional.
A guerra é santa e eu avanço.
domingo, 12 de dezembro de 2010
a metafísica é uma mocinha
Simão Pessoa
a metafísica é uma mocinha
muito bonita e prendada
não tivesse um caso nebuloso
com o processo ôntico do tempo
juro que trepava com ela
a metafísica é uma mocinha
muito bonita e prendada
não tivesse um caso nebuloso
com o processo ôntico do tempo
juro que trepava com ela
sexta-feira, 10 de dezembro de 2010
Corpoenigma – ventre
Zemaria Pinto
verbo aprisionado
nas fronteiras do indizível
– mística metáfora
seara do tempo
tecida em gestos de amor
– sementes de luz
nicho de esperanças
desenhadas sob o sol
– repouso do sonho
verbo aprisionado
nas fronteiras do indizível
– mística metáfora
seara do tempo
tecida em gestos de amor
– sementes de luz
nicho de esperanças
desenhadas sob o sol
– repouso do sonho
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Corisco
Bruna Lombardi
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te beber todo
atravessa esse meu fogo
te arremessa nesse jogo
de cabeça.
Que cresça a tua vontade
que seja feita a tua vaidade
nessa terra de homens e mistério.
Te quero
na relva molhada
me quero ver derrubada
me transpassa
a arco e flecha
lança e mordaça.
Te fecha o trinco
Te tranca
barra a passagem. Espanta
a última solidão que te ameaça
– que o ritual comece –
(ah se eu fosse se eu pudesse)
que este tal de amor se faça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te fazer a festa
que eu vou conhecer a tua raça
Cigano. Mestiço.
Teu pulso arisco
o risco do teu jugo
o perigo de tua caça
eu arrisco.
Me faça que eu fico contigo
me cobre no dia da graça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te beber todo
atravessa esse meu fogo
te arremessa nesse jogo
de cabeça.
Que cresça a tua vontade
que seja feita a tua vaidade
nessa terra de homens e mistério.
Te quero
na relva molhada
me quero ver derrubada
me transpassa
a arco e flecha
lança e mordaça.
Te fecha o trinco
Te tranca
barra a passagem. Espanta
a última solidão que te ameaça
– que o ritual comece –
(ah se eu fosse se eu pudesse)
que este tal de amor se faça.
Vem pra cá cavalo doido
que eu vou te fazer a festa
que eu vou conhecer a tua raça
Cigano. Mestiço.
Teu pulso arisco
o risco do teu jugo
o perigo de tua caça
eu arrisco.
Me faça que eu fico contigo
me cobre no dia da graça.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
Sonetos Luxuriosos – 3
Aretino (1492-1556)
Para gozar Europa, em boi mudou-se
Jove, pelo desejo compelido,
E em mais formas bestiais, posta no olvido
A sua divindade, transformou-se.
Marte perdeu também aquele doce
Repouso a um Deus somente consentido.
Por seu muito trepar foi bem punido,
Qual rato que na rede embaraçou-se.
Este que ora mirais, em contradita,
Podendo, sem perigo, a vida inteira
Trepar, a cu nem cona se habilita.
Por isso, que é sem dúvida uma asneira
Inaudita, solene, verdadeira,
Nunca mais neste mundo se repita.
Insossa brincadeira!
Pois não sabes, meu puto, que é malsão
Fazer boceta e cu da própria mão?
(Trad. José Paulo Paes)
Para gozar Europa, em boi mudou-se
Jove, pelo desejo compelido,
E em mais formas bestiais, posta no olvido
A sua divindade, transformou-se.
Marte perdeu também aquele doce
Repouso a um Deus somente consentido.
Por seu muito trepar foi bem punido,
Qual rato que na rede embaraçou-se.
Este que ora mirais, em contradita,
Podendo, sem perigo, a vida inteira
Trepar, a cu nem cona se habilita.
Por isso, que é sem dúvida uma asneira
Inaudita, solene, verdadeira,
Nunca mais neste mundo se repita.
Insossa brincadeira!
Pois não sabes, meu puto, que é malsão
Fazer boceta e cu da própria mão?
(Trad. José Paulo Paes)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Corpoenigma – seios
Zemaria Pinto
expostas ao sol,
transparências de alabastro
latejam vulcões
raízes plantadas
no vasto campo do corpo
– casulo de sonhos
úmidas de orvalho
na floração matinal
– pétalas rosáceas
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