Amigos da Alcova

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

O mundo que venci deu-me um amor


Mário Faustino (1930-1962)

 

O mundo que venci deu-me um amor,

Um troféu perigoso, este cavalo

Carregado de infantes couraçados.

O mundo que venci deu-me um amor

Alado galopando em céus irados,

Por cima de qualquer muro de credo,

Por cima de qualquer fosso de sexo.

O mundo que venci deu-me um amor

Amor feito de insulto e pranto e riso,

Amor que força as portas dos infernos,

Amor que galga o cume ao paraíso.

Amor que dorme e treme. Que desperta

E torna contra mim, e me devora

E me rumina em cantos de vitória...

  


domingo, 5 de outubro de 2025

Poema vertigem

 

Roberto Piva (1937-2010)

 

Eu sou a viagem de ácido

nos barcos da noite

Eu sou o garoto que se masturba

na montanha

Eu sou tecno pagão

Eu sou Reich, Ferenczi & Jung

Eu sou o Eterno Retorno

Eu sou o espaço cibernético

Eu sou a floresta virgem

das garotas convulsivas

Eu sou o disco voador tatuado

Eu sou o garoto e a garota

Casa Grande & Senzala

Eu sou a orgia com o

garoto loiro e sua namorada

de vagina colorida

(ele vestia a calcinha dela

& dançava feito Shiva

no meu corpo)

Eu sou o nômade de Orgônio

Eu sou a Ilha de Veludo

Eu sou a Invenção de Orfeu

Eu sou os olhos pescadores

Eu sou o Tambor do Xamã

(& o Xamã coberto

de peles e andrógino)

Eu sou o beijo de Urânio

de Al Capone

Eu sou uma metralhadora em

estado de graça

Eu sou a pombagira do Absoluto

Ilha Comprida, 1991

 

Voyeurs desde o Natal de 2009