Marta Cortezão
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável.
Eu sou.
(Adélia Prado)
no vão do interdito
é que mora a poesia
que samba na tua cara
só de pilhérica sacanagem
gargalhando metalinguagem
minha gruta melopeia
decompõe teorias e cios
cavalgando o gozo pleno
em delirante sinestesia
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e envolve-lo no meu sexo
de metonímias e arrepios
minha língua devora
teu verso ereto
com apetite de Lilith
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e quebrá-lo na praia
de minhas nádegas
feitas de nuas metáforas
minha vulva vibra
em frequência sibilante
e sangra o ciclo da vida
no universo uterino
– escultor profissional
de mágicas epifanias –
só para descompassar
teu ritmo sisudo
e te afogar num afoito pleonasmo
de esperança verde muiraquitã