Amigos da Alcova

domingo, 28 de junho de 2015

Definição de uma freira



Antonio Barbosa Bacelar (1610-1663)


A freira é sanguessuga chupadora,
vário camaleão na cor incerto,
que toma a cor da cor que está mais perto;
só dá cor da vergonha se não cora.

Igual ave em gaiola enganadora,
que as néscias aves traz ao lado incerto,
pescadora sagaz que dá, aberto,
o anzol com a minhoca enganadora:

Comísero amante, aranha triste,
que o laço em que se enforca urdir pretende,
Tântalo que não bebe e na água assiste;

Sirgo que a sepultura a si fabrica,
abelha que o ferrão pregar intende,
morre só por picar, morre se pica.

domingo, 14 de junho de 2015

Soneto CLXXXI


António Lobo de Carvalho (1730-1787)


Que és puta provarei, minha Terência,
Puta, e mais puta do que as mesmas putas;
Tu és freira, e aqueloutras, bem que inuptas,
Sequer voto não têm de continência:

Se elas para mil fodas têm potência,
Tu em cem mil punhetas as comutas;
Tu com o frade na grade em seco lutas,
És putíssima tu, por consequência.

Putíssima! Ainda mais; muito bem podes
Levar de reputíssima o letreiro;
Replicas? É melhor que te acomodes.

Elas levam a porra do brejeiro,
Do negro, do lacaio, e tu? – tu fodes
Com o retrato da porra um dia inteiro.

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Lábios que beijei 47


Zemaria Pinto
Rogélia


Casada com um colega do banco, com quem me dava muito bem, apesar do pudor de chamá-lo de amigo, Rogélia era de uma beleza difícil de descrever: a pele achocolatada, os cabelos castanhos muito claros, os olhos profundamente azuis – e um corpo esculpido com requintes de perfeição. Certa manhã, toca o telefone e ela pergunta pelo marido, que se sentava à minha frente, no lado oposto da sala. Ele estava lá, mas ela queria falar mesmo era comigo, queria encontrar-se comigo, longe da paisagem cotidiana. Marcamos para o final da tarde, no balneário do Parque 10, cujo bar funcionava a partir de quinta-feira. Ela estava com um véu sobre a cabeça e óculos escuros, mas era impossível disfarçar aquele corpo monumental, sem par em toda a cidade. No bar, pouco mais de 18 horas, apenas dois casais, muito provavelmente, clandestinos também. Rogélia soubera que o marido andava de caso com uma estudante do Pedro II – e queria vingança. Mas por que eu? – Porque ele não gosta de você; acha que ele, por inúmeras razões, deveria ocupar o seu lugar no banco; e por muito tempo ele me pintou você como um sedutor irresponsável, um moleque; agora, eu quero que você me seduza... Àquela mulher tão linda, era quase impossível dizer não. Tentei argumentar, mas ela me sufocou com um beijo, o hálito quente, um gosto de framboesa. Entramos no carro e ela foi logo desabotoando minha braguilha e, com muita destreza, chupando meu pau. Entrei em um ramal que eu já conhecia de outras investidas. Mas ela não queria só sexo. Queria humilhar o marido. Passou para o banco de trás do Comodoro e ficou de quatro, com a porta aberta, e eu pude penetrar a sua boceta: ela uivava como uma loba, um gozo cheio de melancolia. Depois, ela desceu do carro e, ainda de costas, ofereceu-me a bunda e eu penetrei-a com força. – Me fode, cachorrão! Me fode! Não sei quanto tempo ficamos ali. Depois que gozei a terceira vez e já perdera o interesse, ela continuava querendo mais. Uma tímida lua crescente iluminava o estreito caminho de barro. Rogélia, que tinha sangue nórdico e guarani, voltou para o sul. O marido desapareceu no abismo do seu encalço. A mim ficou-me apenas a lembrança de uma lua pálida e de uma loba triste.  

(Para ler outros contos desta série, veja Lábios que beijei)

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