Amigos da Alcova

quarta-feira, 30 de março de 2011

No corpo feminino, esse retiro

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)



No corpo feminino, esse retiro
– a doce bunda – é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo
em unhas protestantes, e respiro
a brisa dos planetas, no seu giro
lento, violento... Então, se ponho e tiro

a mão em concha – a mão, sábio papiro,
iluminando o gozo, qual lampiro,
ou se, dessedentado, já me estiro,

me penso, me restauro, me confiro,
o sentimento da morte eis que o adquiro:
de rola, a bunda torna-se vampiro.

domingo, 27 de março de 2011

Bacante III

Anibal Beça (1946-2009)



Leite de mulher amada
é como lua crescente ,
tetas de mel saliente,
feito de uva rosada.

Mais belo em sua nascente
rio de torrente domada;
solo de frauta doirada
delírio vivo de crente.

Por bebê-lo, hei renascer,
no olor de louro buquê:
vinho suave de beber.

Bom na Germânia, porque
de origem, nas videiras
ouve-se a uva crescer!

terça-feira, 22 de março de 2011

A boca do meu homem

Angelica de Lis (1984-2009)


Amo cada parte do teu corpo.
Mas tua boca, meu amor, a tua boca
Priva-me dos sentidos no torpor da excitação.
Teus lábios quando tocam os meus...
Arde em mim o desejo de entregar-te
O meu corpo, como se fosse a primeira vez.

Tua voz sussurrando em meu ouvido
Palavras ternas, obscenas, sacanagens
Me conduzindo a momentos selvagens,
Me deixa hipnotizada, de vontade de te ter.
Te ouço chamar meu nome: eu me rendo,
Estou no teu enlace, sou tua, faz amor comigo, faz...

Teu hálito. Ah!, teu hálito, meu amor
Como é bom acordar com a brisa fresca
Que tua boca emana pela manhã
Esse cheiro de aurora, de despertar, de tesão,
Cheiro que perfuma meu corpo, meu dia
Minha vida. Não me canso de cheirar tua boca!

E a tua língua. Tua língua na minha face
Sôfrega, me lambendo, regando a minha pele
Com tua saliva doce, de lúpulo e hortelã.
Tua língua no meu sexo, me lavando e me levando
Ao delírio do prazer: eu grito eu gemo eu choro e gozo
Na tua boca – e sorves o meu mel, teu alimento.

Na tua boca, meu amor, eu me perco. Não quero
Nunca me encontrar, nem beijar outra boca
Que não seja a tua, onde no teu beijo eu sou feliz
E em cada palavra pronunciada, regada de tesão
Misturada ao teu hálito fresco, eu me dou sem medo
Pedindo mais e mais a tua língua dentro de mim.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Futuro do pretérito

Eliane Stoducto (?-2007)



Eu poderia ficar horas te escutando
tuas piadas, teus projetos, teus enganos.

Eu poderia te olhar horas a fio,
enquanto tu fosses desfiando
as histórias da avó e dos teus filhos...

E ficaria horas contemplando
o teu jeito meio bobo e te adorando...

Ah, eu ficaria, sei que ficaria...

Com a atenção dispersando eu te olharia
sorrindo com ternura e simpatia,
a mente vagueando em outros planos,
ansiosa, procurando a fantasia
de te ter dentro de mim...

Ah, eu faria tudo isso. Ah, se eu faria!

Depois, quando calasses, eu te levaria
para os brancos lençóis,
então serias o meu dono...

Mas, hoje não, meu querido,
estou com sono...

domingo, 13 de março de 2011

Não era mole – dois poemas do tempo da ditadura

Na moita
Teresa Jardim




botou tudo pra fora
meteu o pau
no corpo federal
e saiu todo faceiro
do banheiro
o soldado com o general



Artigo de fundo
Bráulio Tavares



Eu quero é a orgia!
A safadeza!
A indecência!

Deixo pros padres
e pros militares
               a continência!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Sonetos Luxuriosos – 4

Aretino (1492-1556)



Este caralho é mais do que um tesouro!
É o bem que pode me fazer feliz!
Este sim é que é bem de Imperatriz!
Vale esta gema mais que um poço de ouro!

Acode-me, caralho, que eu estouro!
Vê se encontras o fundo da matriz;
Um caralho pequeno se desdiz
Quando na cona quer guardar decoro.

Estás dizendo a verdade, ó mulher;
Quem caralho pequeno em cona enfia
Merece, de água fresca, um bom clister.

Esses devem foder cu, noite e dia.
Já quem o tem, como eu, brutal, feroz,
Somente na boceta se sacia.

                             Sim, é verdade. Mas
O caralho nos dá tanta alegria
Que nossa gula o quer na frente e atrás.


(Trad. José Paulo Paes)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Zoofilia – Abelhas

Nei Leandro de Castro


Será o zangão

um plebeu afortunado?

Ele fode a rainha, sim,

mas depois morre fulminado.

Voyeurs desde o Natal de 2009