Amigos da Alcova

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Sei que em alguma cidade deste planeta em ruínas

Claufe Rodrigues (Baby the Billy)


Sei que em alguma cidade deste planeta em ruínas
uma pequena me ama de verdade.
Posso sentir seu bafo no meu cangote
quando saio pra tomar um trago.
Sei que num puteiro perdido qualquer
uma mulher se embriaga por minha causa.
Posso ver seus olhos brilhando de bebedeira,
nos faróis dos automóveis.
Nós bebemos tanto porque estamos distantes
um do outro, nessa geografia dos instintos.
Mas ela sabe o que eu sinto,
eu sei o que ela sente,
e assim nos amamos desesperadamente,
dia após dia.
O resto é poesia.
Foda-se.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Dos epigramas venezianos

Goethe (1749-1832)



Gosto de rapazes, mas muito mais de moças:

satisfaço a moça e ela me serve de rapaz.


(Trad. José Paulo Paes)

domingo, 25 de julho de 2010

Bunda

Grace Cordeiro



eu sou risível

permissiva –

esfera nua

nos teu olhos

sexta-feira, 23 de julho de 2010

A cópula

Marco Adolfs


Após a primeira foda, meio nervosa,
Ela, com a boceta toda melosa,
Querendo uma nova foda,
Incontinente, pediu:
– Me fode direito, viu?!
Mete bem metido, viu!? Puta que pariu!
Depois de lhe beijar, impaciente,
Ela tomou-o na boca e mordeu;
Ele então reclamou: – Porra, meu!
Mas, logo em seguida, rijo, alteou-se;
E fodeu-a como pediu.
Ela, sentindo que ia morrer;
Ele, com o tição aceso a foder;
Quando terminou a foda,
Lá pelas altas horas da aurora,
Ela pediu um copo d’água e dormiu;
Ele levantou-se, arrumou-se todo e partiu...

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Bodas

Nei Leandro de Castro



Com os dedos, quase bruto, vou tocar
a carnadura dos teus grandes lábios
e vou além explorador abrindo
as redondas clareiras do teu gozo,
onde entrarei com o ímpeto sereno
de macho que afaga e que deflora.
Quero te ver no cio, putana, virgem,
me machucando com os teus caninos,
afiando as garras no meu lombo.
Em represália, eu te parto ao meio,
coisa frágil que és, corça de louça,
que fustigada investe com tal fúria,
me engole todo, me mata, me mastiga
e me devolve trapo: homem após gozo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

De “As ferrugens engaioladas”

Benjamin Péret (1899-1959)




Ah! as mocinhas que erguem o vestido
para se esfregarem na moita
ou então nos museus
atrás de Apolos de gesso
enquanto a mãe delas compara a vara da estátua
com a do marido
e suspira
Ah! se meu marido fosse parecido
Um dia a mãe voltará sozinha ao museu
mas a filha dela fugirá pelo outro lado
vara na mão
e a mãe desolada
roubará de uma porta
a maçaneta de cristal


(Trad. José Paulo Paes)

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Soneto

Francisco Moniz Barreto (1804-1868)


    Diálogo entre mim e uma jovem, que passava por donzela,
e cujo cabaço andava sabe Deus por onde.


Eu – “Eugênia! vamos nós muito em segredo,
        Já que todos lá dentro estão dormindo,
        Gozar no campo do luar tão lindo,
        Deitadinhos debaixo do arvoredo?”

Eug. – “Ó! quem dera! Mas eu... eu tenho medo,
        Porque pode a mãezinha estar ouvindo...”
Eu – “Qual mãe, qual nada: vamos já saindo.
        Previne a escrava; voltaremos cedo.

        Eugênia! quer você... mas... com cautela....”
Eug. – “Eu não... Jesus!...” Contudo a tal deidade
        Nem no cu de cagar era donzela.

        Fornicamos três horas, à vontade;
        A putinha – com cio de cadela,
        E eu – com cio e tesão de burro ou frade.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Elegia

Paulo Franchetti



Meu tesão não gastei na foda insana
Evitando a putada, que chamava...
Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Sempre dura esta vara, que é humana!

Da broxice fatal a mente ufana
Dos efeitos de agora não curava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que é o tempo e que tudo dana!

Este pinto, que em tempos foi soberbo,
Já não se recompõe, não ergue a crista,
E, pois, esta sentença dura averbo:

Fodi pouco, afinal, pois tudo é nada,
Se após a ronda, o sítio e a conquista,
Fica mole esta pica desgraçada!

sábado, 10 de julho de 2010

As catedrais da paixão

João Sebastião

A vós dedico, Senhora
esta balada indecente
renovando com fervor
meu amor profano e crente!

Senhora de meus desejos,
esperai-me esta manhã
como em todas as manhãs
deste amor calmo e profundo;
desfeita a trava da porta,
pra que entre sem demora,
foda-se o mundo lá fora,
fodamos em nosso mundo!

Esperai-me sem calcinha
mas não de todo despida
conservando sobre o corpo
o transparente organdi,
pra que possa aos bocadinhos,
exercitando os sentidos,
descobrir os pentelinhos
que envolvem vossa boceta;

minha língua feita em vento
varrerá vosso grelinho
sorvendo cada momento
que passar dentro de vós;
quero sentir-vos pulsante
na febre que antecede
o amor que esculpiremos
com braços, pernas e dentes.

É vosso perfume feito
de florais do amormanhã,
colhidos junto à saliva
da madrugada furtiva;
em vosso hálito, a menta
cujo frescor natural
vai fazer gelar-me o pau
ao colocá-lo na boca.

Eu serei vosso corcel,
vós sereis égua ligeira
e num galope apressado
saltareis por sobre abismos
de incontidos orgasmos,
tornando grito em canção,
gemido em sinfonia,
silêncio em revolução!

Nas romãs de vossos peitos
germinam mamilos túmidos
sobre a pele de avelã,
onde tatuarei mordidas
que farão de mim lembrar-vos
até que se cumpra o ciclo
do próximo amorencontro
amanhã pela manhã.

E nesses seios tão doces,
fecho os olhos e me vejo
mamando jabuticabas
que no tempo de eu menino,
Rosa colhia pra mim;
hoje, sublime consolo,
amada senhora minha,
recolho-as em vosso colo.

São vossas coxas colunas
a sustentar imponentes
as catedrais que se erguem
a alguns suspiros do ventre;
místico som do silêncio,
vórtice louco e voraz:
de um lado gótica gruta
umedecida de mel,

cercada pela ravina
dos vossos pelos revoltos;
doutro, barrocas abóbadas
separadas mas unidas
pelo altar de vosso cu,
onde rezo com fervor,
querubim entronizado,
prostrado aos pés do Senhor!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Declaração ao meu homem

Angelica de Lis (1984-2009)



Como eu gosto de foder
Como eu gosto de trepar
com você
teu jeito de me enrrabar
teu jeito de me comer
só você.

Teu sorriso é meu sorriso
teu olhar é meu olhar
teus músculos me apertando
estremecendo meu corpo
teus toques multiplicados
a me fazer gozar gozar gozar gozar...

Tua pele em minha pele
nossos corpos são um só
Minha língua em tua boca
lambichupa e chupalambi
dentes cravados no peito
tatoo de vermelhosangue.

Teus abraços carinhosos
meu prazer insaciado
teu desejo realizado
meu corpo todo marcado
minha xana tão ardente
o teu pau todo contente.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Chovia no teu coração de merda

Roberto Piva (25/09/1937-03/07/2010)



Big Jim Colosimo / metranca do Saber / Aureus asinus against Catilina / Bugios no quintal / Ida & volta do Cu Constelado / Mambo no sintetizador do Timbuctu / varíola entre os piratas / varrido pelos piratas / Long John Silver / 15 homens no baú do morto / Exu Gargarejo / fodendo o garoto no buritizal / cachaça & vaselina / espelhos nascendo num outro tremor / anjo doente & licoroso / luas de bolso / Riobaldo & Diadorim: heróis-escaravelhos / com quantos punhais construiremos o quarteirão da Paixão? / cuíca-cascavel / garoto bêbado chupando pau do travesti / Santa Cecília by night / cafungando / Jorge de Lima com seu girassol de coalhada fresca / Batuque / Exu comeu Tarubá / John Cage & a violeta de Parma / deus submerso / de manhã estrelas verdes / Vous êtes de faux négres.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Circe moderna

Marco Catalão



Um paquiderme dentro de uma tanga
é mais sexy do que ela de biquíni;
mas gosta de usar fio-dental e mini
saia, e se zombam disso, ela se zanga.

Mais feia do que o cão chupando manga,
mais gorda do que as musas de Fellini,
um adjetivo só não a define:
é macambúzia, é horrípila, é baranga.

Feia como se a ciência e a natureza,
dando-se as mãos, juntassem seus horrores
num Frankenstein sem glória e sem grandeza;

tem mais de dez leais admiradores.
Que áurea magia guarda em sua bolsa,
que torna a feia bela, e a velha, moça?

Voyeurs desde o Natal de 2009